quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Fala maestro

Música contando histórias  

Quando a gente assiste a um filme muitas vezes não se dá conta mas grande parte das emoções que sentimos são disparadas pela música que está acompanhando a cena que assistimos.
Sem ela não levamos sustos, nem choramos, nem sorrimos. Ela é essencial para que aquilo que assistimos nos emocione.

Mas o cinema é recente na história da arte. Apenas no sec XX que foi criado.
No início o cinema era mudo e um músico executava a música em um piano meio que de improviso. Mas desde cedo via-se a importância da música para isso.

Mas claro que isso não começou aí. A história da música de cena vem desde os gregos.
Mais precisamente no teatro grego onde se inicia a história do teatro como conhecemos. Na arena onde eram encenados os espetáculos havia músicos que executavam canções e outras peças durante a encenação. O local onde esses músicos ou o coro e até mesmo bailarinos ficavam chamava-se orkestra em grego. Daí surgiu a denominação orquestra para um grupo de músicos que executam juntos uma peça musical.

Desde então sabia-se que a música tinha esse poder de emocionar e ilustrar uma ação.
Na época não existia um sistema de notação que permitisse que nós saibamos o que era tocado.
A notação musical só apareceu na idade média. Mas sabemos que em praticamente toda  encenação do teatro grego havia músicos

Na época do bardo inglês,  Shakespeare, já se compunham canções que os próprios atores cantavam e a música já fazia parte integrante da montagem teatral. Com o desenvolvimento em geral das artes a música foi evoluindo junto.

Ainda na renascença a comunhão de teatro e música acabou gerando a ópera. Que é um gênero que até hoje comove o público.

A ópera se caracteriza por um texto de teatro que é praticamente todo musicado, os personagens que, no teatro eram representados por atores cantam e interpretam o texto.

Toda a interpretação necessária para que as pessoas se emocionem são de certa maneira dirigidas pela música.

As óperas começaram a se desenvolver e exigir espaços mais apropriados para sua execução.
Para que os músicos na frente não atrapalhassem a visão dos expectadores a princípio elevou-se o palco e a orquestra ficava no chão , na altura dos expectadores.

Posteriormente criou-se o chamado fosso de orquestra. Um espaço mais fundo que o nível do público, o chamado teatro italiano. O Theatro Municipal de S. Paulo ou o do Rio possuem esse formato e ambos têm uma programação de ópera bastante intensa que vale a pena ser assistida.
Outro teatro que possui fosso de orquestra neste molde é o Teatro de Manaus, um teatro especial construído na época da borracha.

No séc, XIX, um grande compositor de ópera alemão Richard Wagner queria que os expectadores não fossem distraído por nada que não fosse o espetáculo. Ele idealizou um teatro que é famoso por isso. O teatro da cidade de Bayreuth na Alemanha. Ele foi o responsável por vários avanços na tecnologia do espetáculo. Uma ideia que ele teve foi de esconder completamente a orquestra.

O fosso italiano onde os músicos ainda são visíveis não interessava a ele. Então ele inventou um fosso que ficava embaixo do palco e descia inclinado para baixo para que uma orquestra grande pudesse executar a música. E a acústica foi desenhada para que não se perdesse nada do público , ao mesmo tempo a orquestra poderia tocar mais forte que não cobriria os cantores. A gente tem que lembrar que se canta sem microfones que só foram inventados no século XX. Ele também criou um sistema de iluminação que vinha de cima, como conhecemos hoje. Até então a luz vinha do chão, da frente dos cantores. Ou seja, além da música maravilhosa ele era também um visionário. Talvez a maior contribuição de Wagner para o mundo do espetáculo foi a ideia de que as pessoas quando assistissem o espetáculo estariam imersas nas imagens e nos sons. Sem luzes da orquestra, movimentos de músicos, ou mesmo os gestos do maestro. Podemos dizer que ele antecipou o cinema como é hoje. Escuro, e nada ( a não ser as pessoas que insistem em conversar durante a projeção…) atrapalha o envolvimento com a história.

A música na ópera descreve com muita emoção aquilo que se passa dentro dos personagens. Mas também há outro tipo de espetáculo onde não se canta, mas sim, se dança. São os espetáculos de balé. Desenvolveram-se paralelamente à ópera e também começaram a ser apresentadas em teatros com fosso, para que a orquestra pudesse contar a história e as coreografias serem executadas no palco. No caso do balé a música assume uma outra importância. Como não são ditas palavras a história tem que ser contado pelos gestos e principalmente pela música. Sempre é um grande desafio.

As óperas e balés se desenvolveram bastante nos séculos XIX e XX. Mas a música para teatro continuou existindo e muitos compositores fizeram músicas que eram executadas durante a encenação teatral.

Um tipo de espetáculo mais leve que o teatro ou a ópera eram as operetas. Eram histórias mais leves e divertidas e a música sempre era muito pra cima.

No século XX tudo  se desenvolveu rapidamente, e os formatos foram se diversificando. O cinema apareceu e as operetas começaram a incluir uma maneira mais popular. Apareceram os musicais, ou teatro musical como é normalmente chamado. Apareceu a sonorização eletrônica alterando a estética, a maneira de se cantar principalmente. O cantor não tem mais a necessidade de encher o teatro com sua voz. Porque o microfone faz esse trabalho.

E o que existe em comum em todos esses tipos de espetáculo é a música, e, em todos eles ela faz o papel de portadora de emoções.

Uma cena da Valquíria de Wagner encenada em seu Teatro:
https://youtu.be/3sB_-rxMtAM
Cenas do Lago dos Cisnes - Balé de Tcahikowsky no Teatro alla Scala de Milão
https://youtu.be/d4-ow2pejtc
Otello de Verdi no Teatro alla Scala de Milão (fosso italiano)
https://youtu.be/_BdTrzHEnYs
Cena do musical My Fair Lady - Loewe e Lerner (B. Shaw)
https://youtu.be/ObhXpmWOWp4
(direção musical minha e em cartaz atualmente no TEATRO SANTANDER em S. Paulo)

Mto. Luís Gustavo Petri é regente, compositor, arranjador e pianista. Fundador da Orquestra Sinfônica Municipal de Santos. Diretor musical da Cia. de Ópera Curta criada e dirigida por Cleber Papa e Rosana Caramaschi. É frequente convidado a reger as mais importantes orquestras brasileiras, e em sua carreira além de concertos importantes, participações em shows, peças de teatro e musicais.