Sempre que perguntada, a maioria da população brasileira tem
se manifestado contra a liberação do aborto, da maconha e do casamento gay, e a
favor da pena de morte e da maioridade penal aos 16 anos.
Sem duvida são posições conservadoras, ou “de direita”, como
diz o Zé Dirceu, e, no entanto, são esses que elegem os governos e as maiorias
parlamentares ditas “de esquerda” hoje no Brasil.
Como harmonizar o conservadorismo na vida real com o
progressismo na política ?
Talvez Tim Maia tivesse razão quando dizia que, “no Brasil,
não só as putas gozam, os cafetões são ciumentos e os traficantes são viciados
e os pobres são de direita”.
Uma ingratidão com a esquerda que lhes dá o melhor de si e
luta pelo seu bem estar. Mas tanto a maioria dos velhos pobres como dos novos,
da antiga classe média careta e da nova mais careta ainda, e, claro, as elites,
acreditam em Deus, na família e nos valores tradicionais, e rejeitam ideias
progressistas.
Quando Abraham Lincoln, em 1862, promulgou a lei da reforma
agrária nos Estados Unidos, assegurando a cada cidadão o direito de requerer
uma propriedade de até 4 mil metros quadrados de terra do Estado, pagando 1
dólar e 25 centavos, criou milhões de pequenos proprietários rurais – que deram
origem às grandes maiorias conservadoras de hoje, que ganharam sua bolsa-terra
e não querem mudar mais nada.
Uma ação politicamente progressista gerou milhões de novos
reacionários.
Um século e meio depois, no Brasil, a nossa “nova classe média”, que tem casa,
carro, crédito, viaja de avião, e é eleitoralmente decisiva, parece ser ainda
mais conservadora do que a “velha”.
A ascensão social exige segurança e instituições sólidas,
quer conservar o que conquistou e reage a mudanças que ameacem suas conquistas.
Como queria Tim Maia, eles também querem sossego.
Então por que não param de falar em esquerda e direita como
se fosse de futebol e tentam entender o que está acontecendo?
Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e
solidão.
Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira.
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